terça-feira, 10 de novembro de 2009

Terra das culturas

Terra do café, terra da garoa, terra das culturas? De certo, todas essas classificações se mostraram legítimas e representaram São Paulo aos olhos de fora. O café, já não é exclusivo a São Paulo como antes; a garoa – por modificações climáticas, em voga nas discussões, mas que não vem a este caso discuti-las - não é tão constante como em outros tempos; já a riqueza cultural continua manifestada e, muitas vezes, preservada em chão paulistano.
CCBB, Caixa Cultural, Espaço Nossa Caixa, Museu da Língua Portuguesa, Pinacoteca do estado são só alguns exemplos de onde encontrar cultura e lazer no centro histórico da cidade de São Paulo, com diversas formas de representação da arte. Desde Caetano Veloso, com sua versão baiana de “Sampa”, até Adoniran Barbosa, com sua maneira tipicamente representativa e inteligentemente informal, a cidade e o povo paulistano são retratados e, assim, vistos por diferentes modos. É aí, que São Paulo torna-se o alvo e não mais só o palco da diversidade. Assim como a cultura da metrópole se vê em um poema do paulistano Mário de Andrade, ela também se identifica com uma peça do nordestino Ariano Suassuna, pois seu espaço é, acima de tudo, universal.A reurbanização do centro velho tem ligação direta com a preservação da cultura do paulistano, e tem de ser encarada desta forma. A Virada Cultural, por exemplo, com grandes atrações na paulicéia, pode ser um instrumento para revalorização do centro histórico, onde aconteciam os antigos e folclóricos carnavais de cordão, os bailes de marchinhas, o teatro de arena. É justamente essa região que Paulo Vanzolini fez cenário para sua canção “Ronda”, que foi definida pelo professor, compositor e paulistano, Luiz Tatit, no documentário “Mapas Urbanos”, como a música que melhor representa a cultura paulistana. Da mesma forma que “Arnesto” de Adoniran, “Sampa” de Caetano e “Silêncio” de Geraldo Filme, tudo que é representado na cultura da cidade de São Paulo demonstra a própria forma de expressão da vida do maior centro urbano do país.
Basta uma volta pelo centro histórico da cidade para se ter a certeza de que direcionar e eleger uma única vertente como culturalmente representativa da capital paulista é um erro, visto que, realmente, o que melhor pode representá-la é a “miscigenação cultural”. Neste sentido, podemos pensar na cidade de São Paulo, tomando como alvo principal o centro velho, como uma região na qual o Brasil está representado, onde o Brasil se personifica. Se não há entusiasmo demasiado em reconhecer a beleza cultural brasileira por suas misturas, por que não pensar na região paulistana como um espaço onde essa beleza se manifesta de forma intensa e ganha mais vida ainda? O centro histórico de São Paulo é a universalidade manifestada por cada traço típico e pessoal.

"São Paulo só passou a existir há muito pouco tempo. E existiu assim: ela se abriu pro mundo...” José Miguel Wisnik